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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Almas e Angola em Florianópolis - SC

ALMAS E ANGOLA

O Ritual de ALMAS E ANGOLA teve sua origem no Rio de Janeiro, Estado que também serviu de berço para o surgimento da UMBANDA.
     A UMBANDA surgiu em 1908, a partir da primeira incorporação do médium Zélio de Moraes.
     UMBANDA e ALMAS E ANGOLA são na realidade manifestações "ritualístico/religiosas" distintas, apesar de utilizarem muitas coisas em comum, como por exemplo a incorporação de espíritos  como : índios, velhos escravos, crianças, etc.
     Muitos são os terreiros de ALMAS E ANGOLA, por exemplo, que se reconhecem como UMBANDA em ALMAS E ANGOLA, porém é muito importante lembrar que  a UMBANDA em suas atividades internas é muito diferente de ALMAS E ANGOLA, principalmente na forma de cultuar os Orixás. Em ALMAS E ANGOLA por exemplo, existem rituais internos denominados "FEITURAS DE ORIXÁS" ou camarinhas. Nessas atividades o médium é "raspado", "catulado" e como ocorre no CANDOMBLÉ, sai ao público em sessão especial denominada "SAÍDA DE CAMARINHA".
     ALMAS E ANGOLA e UMBANDA não podem ser vistas como uma mesma prática ritualístico / religiosa, pois tem suas características internas próprias, ou seja , realizam rituais distintos, apesar de  terem se originado de troncos quase comuns.
     A Origem do ritual de ALMAS E ANGOLA, ainda hoje é motivo de questionamento. Há quem afirme ser o ritual de ALMAS E ANGOLA originário da CABULA, movimento religioso oriundo do sincretismo afro-católico ainda ocorrido no período da escravidão, principalmente nas áreas rurais. A CABULA, segundo pesquisas refere-se aos rituais negros mais antigos, envolvendo imagens de santos católicos, herança da fase reprimida do CANDOMBLÉ, onde os negros mesclavam crenças e culturas. Quando no final do século XIX ocorre a libertação dos escravos, a CABULA já era presente como atividade religiosa afro-brasileira. Talvez a própria UMBANDA, tenha herança na CABULA, pois mantém forte a presença do Orixá em sua pratica doutrinária.
     No Rio de Janeiro, antes mesmo da origem oficial da UMBANDA (1908), eram comuns práticas afro-brasileiras similares ao que hoje conhecemos como CABULA, OMOLOCÔ e ALMAS E ANGOLA. Talvez o surgimento da UMBANDA tenha fornecido uma linha comum, possibilitando uma prática mais ordenada, orientada no desenvolvimento da mediunidade e na prática da caridade e auxílio a população pobre e marginalizada.
      Um importante fato histórico ligado ao ritual de ALMAS E ANGOLA, e quemerece ser registrado, é o "Terreiro do BABALÂO LUIZ D'ANGELO (clique no nome ao lado para ver foto histórica), localizado na Rua Iguaçu Nº57, no Bairro Engenho Leal - Estação do Trem - Rio de Janeiro. Segundo as pesquisas, o Babalâo Luiz D'Angelo praticava em seu terreiro o ritual de ALMAS E ANGOLA e foi ele que trouxe o ritual para Sta Catarina. Antes de abrir seu terreiro Luiz D'Angelo era filho de santo da Tenda Espírita Caboclo Tuiti, localizada no Bairro Cordovil, também no Rio de Janeiro. Foi nessa tenda que GUILHERMINA BARCELOS (Mãe Ida) (clique no nome ao lado para ver foto histórica) conheceu Luiz D'Angelo e o ritual de ALMAS E ANGOLA.
      O ritual de ALMAS E ANGOLA era praticado na Tenda Espírita Fé Esperança e Caridade de Luiz D'Angelo tendo como particularidade, daí a sua distinção da UMBANDA, as obrigações de camarinha. Nessas obrigações os médiuns eram graduados, começando pelo Batismo, passando pelo "Obori" ou obrigação de Anjo da Guarda, posteriormente pela obrigação de Pai ou Mãe Pequena e finalizando com a obrigação de Babalâo (homem)  ou Babá (mulher). As obrigações de SETE, QUATORZE e VINTE E UM anos reforçam a obrigação de Babalâo ou Babá e fazem parte da atual fase do ritual já em Sta Catarina.
     Santa Catarina conhece o ritual de ALMAS E ANGOLA após o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), quando Mãe Ida viaja com seu esposo para o Rio de Janeiro, a pedido de suas entidades espirituais, para buscar novas orientações  no que se referia ao culto aos Orixás. Na época, Mãe Ida já tinha um terreiro de umbanda desenvolvendo muitos filhos de santo. A necessidade de  fortalecer seus filhos  com obrigações mais "fortes"  (conta Mãe Ida) a fez  buscar novos recursos dentro da cultura afro.
     Foi no Rio de Janeiro, na Tenda de ALMAS E ANGOLA do BABALÂO LUIZ D'ANGELO (clique no nome ao lado para ver foto histórica), que Mãe Ida realiza, em janeiro de 1949, sua primeira obrigação no novo ritual. Na época com 29 anos, Mãe Ida se consagra como a primeira pessoa em Santa Catarina a entrar para o ritual de ALMAS E ANGOLA.
     De 1949 até 1951, Mãe Ida faz algumas  viagens ao Rio de Janeiro com o objetivo de conhecer  o ritual mais diretamente, pois afinal já era de seu interesse  converter seu terreiro  até então praticante de UMBANDA para  o ritual de ALMAS E ANGOLA.
     Após um período necessário de adaptação, em 1951, Luiz D'Angelo vem à Florianópolis e oficialmente "abre" a TENDA ESPÍRITA SÃO GERÔNIMO (clique no nome ao lado para ver foto histórica) no Bairro dos Saco dos Limões, primeira Tenda de ALMAS E ANGOLA  fundada em Sta  Catarina
O ritual de ALMAS E ANGOLA foi praticado durante muitos anos na TENDA ESPÍRITA SÃO GERÔNIMO (clique no nome ao lado para ver foto histórica), no bairro Saco dos Limões por Mãe Ida.  Nesse período inúmeros filhos de santo foram iniciados no ritual e alguns deles receberam a graduação de Babalâo  e Babá, e a partir daí  abriram seus próprios terreiros, ou em alguns casos  de pais ou mães de santo com terreiros já montados e praticantes de outros rituais, trocaram sua prática anterior para o ritual de ALMAS E ANGOLA. Nesse período começa a se firmar o ritual na Grande Florianópolis.
     Nas décadas de 50 , 60 e 70 o ritual de ALMAS E ANGOLA  praticado em Sta Catarina já sofria algumas alterações quando comparado com o do Rio de Janeiro, porém em muitos pontos mantinha-se fiel aos ensinamentos trazidos por Luiz D’Angelo.
     Com a entrada de GUILHERMINA BARCELOS (Mãe Ida) (clique no nome ao lado para ver foto histórica) para o Candomblé, as mudanças no ritual passam a ser marcantes, fato comum ainda hoje.  Conforme relata a própria  Mãe Ida, ela resolve  entrar para o  CANDOMBLÉ , satisfazendo um interesse pessoal em dar aos Orixás determinados "fundamentos" que não eram comuns à ALMAS E ANGOLA. Inicialmente Mãe Ida faz uma obrigação em NAGÔ IGEXÁ, posteriormente em "TORIEFAM" e por último em KETO.  Perguntada sobre as mudanças de rituais e sabendo ter sido ela a precursora do ritual de ALMAS E ANGOLA  em Sta Catarina, Mãe Ida diz que  na época  foi fortemente atraída pelas possibilidades que o CANDOMBLÉ oferecia em termos de  culto aos Orixás. Atualmente, quando comparamos o ritual praticado no Rio de Janeiro com o que se pratica em Santa Catarina, é possível identificar a forte presença de características adquiridas por influência do Candomblé.
     As poucas casas de ALMAS E ANGOLA, mesmo com o desligamento oficial de Mãe Ida, continuaram praticando  o ritual de ALMAS E ANGOLA. Como exemplo podemos citar os terreiros de: Pai Evaldo, no bairro Bela Vista/São José ; Pai Fagundes, no bairro Saco dos Limões/Florianópolis ; PAI TÊLES, NO BAIRRO JARDIM ATLÂNTICO/FLORIANÓPOLIS (clique no nome ao lado para ver foto histórica), todos filhos espirituais de Mãe Ida -  e também  o terreiro de Pai Orlando*, no bairro Bela Vista 1/ São José  - filho espiritual de Luiz D'Angelo.
*   (Orlando Linhares Sobrinho - Pai Orlando, em 1976  viaja para o Rio de Janeiro e realiza sua obrigação de Babalâo. Segundo relatos, nesse período o ritual de Almas e Angola praticado em Santa Catarina, já sofria algumas alterações em relação ao do Rio de Janeiro, motivo que o levou a procurar Luiz D'Angelo para que o consagra-se Babalâo.  Pai Orlando afirma que hoje em Sta Catarina não encontram-se terreiros que pratiquem o ritual da mesma forma que era praticado no Rio. Acredita Pai Orlando que essas mudanças sejam resultado da influência exercida pelo Candomblé, pois afinal, no ritual original de ALMAS E ANGOLA os orixás eram cultuados de forma muito "simples", a começar pelas oferendas ou comidas de santo. Pai Orlando foi um dos últimos filhos de santo "feito" por Luiz D'Angelo).
     No final da década de 70, poucos eram os terreiros praticantes do ritual de ALMAS E ANGOLA, porém os números de adeptos e de novos iniciados ao ritual crescia, principalmente na década de 80. É nesse período que são inaugurados vários terreiros mantedores do ritual. Segundo  pesquisa, a maior parte dos terreiros de ALMAS E ANGOLA que hoje a praticam, são raízes  da Tenda Espírita Jesus de Nazaré, fundada e dirigida ainda hoje por EVALDO LINHARES ( Pai Evaldo). É importante registrar que a Tenda Espírita Jesus de Nazaré é o terreiro mais antigo e em atividade no Estado.
     Na Tenda Espírita Jesus de Nazaré , o ritual de ALMAS E ANGOLA passa por algumas modificações, ou seja, as obrigações de reforço de  7, 14 e 21 anos, não existentes no ritual no Rio de Janeiro, passam a fazer parte dessa nova fase.
     Conversando com Mãe Ida sobre as obrigações de 7, 14 e 21 anos, ficou claro que, no ritual praticado no Rio de Janeiro, essas se limitavam as feituras de Babalâo e Babá. Os chamados reforços  foram  "criados" por Pai Evaldo , inclusive algumas guias  (colares de contas). A guia de sete fios, por exemplo, usada após a obrigação de Sete Anos é uma "criação" de Pai Evaldo.
     Segundo Pai Evaldo, após a realização da obrigação de Babalâo e já  praticando o ritual de ALMAS E ANGOLA e sendo na época a maior casa de santo do Estado mantenedora  de uma das maiores correntes mediúnicas  , era preciso continuar o ritual, mesmo sem a presença de Mãe Ida.  E foi assim , que  com  ajuda de seus mentores e guias espirituais, principalmente do caboclo Peri, que Pai Evaldo , manteve-se "fiel" ao ritual por ele assumido.
      Ao completar seus sete anos de obrigação em ALMAS E ANGOLA , Pai Evaldo procura novamente Mãe Ida e  pede  seu auxílio no sentido de  orienta-lo quanto aos procedimentos necessários  para seu fortalecimento, pois afinal , a dedicação quase total aos trabalhos espirituais exigiam um reforço, ou seja, um fortalecimento dele enquanto médium. Mãe Ida  que na época  praticava o ritual de CANDOMBLÉ, segundo relatos do próprio  Pai Evaldo, já estava muito comprometida com o seu novo ritual , ficando impossibilitada de atender o pedido de seu filho, naquele momento. Consultando seu caboclo, o mentor dirigente do terreiro, Pai Evaldo resolve  buscar  auxílio com  Pai Orlando (Nessa época Luiz D'Angelo já havia falecido) e orientado pelo próprio Caboclo Peri  e  auxiliado por Pai Orlando realizou sua obrigação de SETE anos, iniciando aí uma fase nova dentro do ritual de ALMAS E ANGOLA.  Segundo os mais antigos praticantes do ritual, essa fase faz surgir uma bifurcação no ritual, criando duas correntes em ALMAS E ANGOLA. Uma  corrente  que  segue o ritual com as alterações criadas por Pai Evaldo e outra que mantém  as características originais trazidas por Luiz D'Angelo em 1951(Apesar de algumas mudanças).
     Conversando com Pai Orlando, fica claro que o ritual de ALMAS E ANGOLA, hoje praticado, é bem diferente daquele realizado no Rio de Janeiro. Como exemplo, podemos citar as feituras do Orixá OBALUAÊ; no Rio de Janeiro esse Orixá não era "feito". Luiz D'Angelo não fazia filhos de OBALUAÊ, pois afinal, esse Orixá era considerado o Senhor das Almas . No Rio de Janeiro, no Terreiro de Luiz D'Angelo a imagem desse Orixá ficava separada em um altar especial.
     Atualmente, sabendo-se de algumas  alterações que ocorreram no ritual de ALMAS E ANGOLA e reconhecendo a forte influência de Pai Evaldo  no culto em Sta Catarina é oportuno mencionar  que  dos atuais terreiros que praticam o ritual,  90% seguem  as práticas e as adaptações  criadas por Pai Evaldo.
     De 1951, até os dias atuais, encontramos uma série de mudanças ocorridas no ritual, principalmente no que se refere as cerimônias externas. Se no início as obrigações se limitavam a graduação de babalâo e Babá, hoje o mesmo não acontece. Para o ritual e ouvindo as explicações de Pai Evaldo, é possível compreender os motivos que o levaram as adaptações realizadas em seu terreiro. Conforme ele mesmo relata, após a entrada de Mãe Ida no CANDOMBLÉ, muita coisa mudou. Segundo ele, manter o ritual , principalmente com a "saída" de Mãe Ida  , passou a ser um desafio. Mas , conforme relatos do próprio Pai Evaldo, foi graças aos seus mentores, destacando o Caboclo Peri, o Exú Maré e o  Preto Velho  Pai Adão, que o ritual se manteve em seu terreiro , com a mesma força e energia, pois segundo ele , o ritual sem os mentores , os guias não conseguiria se manter.  Conforme diz Pai Evaldo , "OS RITUAIS SÃO CRIAÇÕES DO PRÓPRIO HOMEM, E SENDO ASSIM SÃO  PASSÍVEIS DE MUDANÇAS".  Fazendo uma comparação entre o ritual praticado no Rio de Janeiro e o atualmente praticado em Sta Catarina é evidente que as mudanças realizadas foram necessárias e oportunas.
     Outro momento importante para o ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta Catarina, foi a obrigação de 14 anos realizada por Pai Evaldo. Na ocasião, buscou novamente com Mãe Ida o resgate as origens de ALMAS E ANGOLA e com ela realizou sua obrigação, confirmando aí a necessidade de se manter em obrigações e reforços, mesmo após a realização da feitura ou graduação de Babalâo ou Babá. Em 1986 com a realização do primeiro reforço de 14 anos  no ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta Catarina, realizado  pelas mão de Mãe Ida, o ritual vira uma nova página em sua história, consolidando-se como  uma forte raíz  no Estado.
     No Rio de Janeiro, que foi berço do ritual de ALMAS E ANGOLA, são raros os registros sobre o ritual, as poucas informações se limitam a histórias contadas por aqueles que de alguma forma  conheceram Luiz D'Angelo.
     Hoje, viajando para o Rio de Janeiro é possível identificarmos as práticas da UMBANDA e do CANDOMBLÉ, porém de ALMAS E ANGOLA  não existem registros atuais de nenhum terreiro praticante desse ritual. Isso nos leva a crer que o ritual de ALMAS E ANGOLA, que  encontrou na década de 50 um espaço aberto e amplo para sua instalação em Sta Catarina , aqui permaneceu, cresceu, mudou em alguns pontos e se fez representar , inclusive para o restante do Brasil, pois afinal esse ritual outrora carioca é hoje  , quase que  exclusivo de Sta Catarina.
     Em 1979 com a morte de Luiz D'Angelo no Rio de Janeiro, aos 68 anos , o ritual de ALMAS e ANGOLA  vira uma página importante de sua história. Em Santa Catarina novas páginas estão sendo escritas contribuindo para o registro e resgate dessa história que com certeza  ainda se faz.


O SIGNIFICADO DO TERMO ALMAS  E  ANGOLA

     O termo ALMAS E ANGOLA é originário do Rio de Janeiro. Segundo Guilhermina Barcelos (Mãe Ida), quando de sua primeira visita ao Rio de Janeiro  em meados de 1929, já era comum o uso  do termo ALMAS E ANGOLA, inclusive quando conheceu Luiz D'Angelo ele já era Babalâo  "feito" em Almas e Angola.
No Rio de Janeiro até 1940, era comum encontrarmos inúmeros termos para identificar os diversos rituais afro-brasileiros praticados na época. Segundo pesquisas, existiam no Rio os termos: Umbanda de Mesa, Umbanda de Almas, Almas e Angola, Umbanda de Angola entre outros. Todos praticantes da doutrina Umbandista somados a rituais afro oriundos da cultura negra no país. A Angola, fortemente representada no Rio de Janeiro, trazida pelos escravos Bantus, influenciou os rituais existentes na época, pois afinal a mesma influência acontece no nordeste/Bahia com os escravos Sudaneses.
     ALMAS E ANGOLA ,segundo Guilhermina Barcelos (Mãe Ida) teve forte influência da ANGOLA praticada pelos terreiros no Rio de Janeiro. Luiz D'Angelo, segundo conta , tinha um irmão de santo angolano, que muito o influenciou, principalmente no tocante a feituras de santo (Orixás).
     ALMAS E ANGOLA, mescla as culturas dos Orixás africanos com o culto aos ancestrais (espíritos de mortos). O termo ALMAS está fortemente representado pelos espíritos dos negros ancestrais africanos, que aqui deportaram trazidos pelo tráfico negreiro, e que hoje se manifestam como mentores, guias, os chamados pretos velhos. São também representados nos terreiros de ALMAS E ANGOLA os ancestrais de índios brasileiros, os chamados caboclos, que "curimbam" nos terreiros e fazem sua caridade nos passes e consultas. O interessante no ritual é o fato de  conviverem harmonicamente entidades ou falanges de diferentes origens, ou seja, pretos-velhos e caboclos trabalham conjuntamente nos terreiros, apesar de na maioria das vezes serem envocados (chamados)  em sessões distintas.
     "No Rio de Janeiro o ritual de ALMAS E ANGOLA era praticado obedecendo alguns pontos importantes", comenta Orlando Linhares (Pai Orlando). As sessões eram realizadas segundas, quartas e sextas.  "Em ALMAS E ANGOLA, todos os trabalhos devem iniciar na Segunda-Feira, em respeitos as ALMAS" afirma mais uma vez Orlando Linhares (Pai Orlando).
     O ritual de ALMAS E ANGOLA  praticado no Rio de Janeiro tinha como característica principal, a  utilização de uma escala espiritual, ou seja, as SETE LINHAS ou Falanges.

AS SETE LINHAS DENTRO DE ALMAS E ANGOLA  /  RIO DE JANEIRO
    LINHA DE OXALÁ
    LINHA DE XANGÔ
    LINHA DE OGUM
    LINHA DE OXOSSE
    LINHA DE POVO D'AGUÁ ( Nanã, Yemanjá, Oxum e Inhasã)
    LINHA DAS BEIJADAS
    LINHA DAS ALMAS
  
     A linha das ALMAS é chefiada por OBALUAÊ  e  estão incluídos nessa linha os Pretos-Velhos, Caboclos, Exús e Pomba-Gira.
     Conforme relata Orlando Linhares (Pai Orlando), Obaluaê  representa a força do Ritual de Almas e Angola. Segundo ele, no Rio de Janeiro as incorporações de Obaluaê aconteciam durante as aberturas dos trabalhos, quando eram cantados os pontos para  salvar as ALMAS. Na maioria das vezes, o médium era derrubado no chão (desmaiado) quando entrava em transe com esse guia.  Obaluaê, no Terreiro de Luiz D'Angelo tinha um Altar Especial, pois era tido como a força de ALMAS E ANGOLA.
     Atualmente, na Grande Florianópolis, Obaluaê continua tendo um lugar de destaque nos altares de terreiros que praticam o ritual de ALMAS E ANGOLA.  Além de também ter um lugar de destaque na Casa das Almas.
     O termo Almas, chefiada por Obaluaê, representa os chamados Orixás Menores (são aquelas entidades espirituais que fazem a mediação entre o ser humano e o Orixá Maior).
     O termo ANGOLA, está diretamente ligado aos Orixás Maiores, também cultuados no ritual, que segundo Evaldo linhares (Pai Evaldo) e Guilhermina Barcelos (Mãe Ida), representam as forças da natureza, e que nas sessões de camarinha envolvem o médium de força intensa. Em sessões outras, fora da camarinha os orixás envocados e que incorporam nos médiuns, são representações dos próprios orixás, ou seja, são os chamados  "Eguns dos Orixás"  ou  "Orixás Menores" .
Almas e Angola não é UMBANDA e nem tão pouco CANDOMBLÉ, pois afinal segue rituais próprios e doutrina específica. Por muitos seguidores é uma nação, porém não deve ser desvinculada da prática original, onde envolve culturas afro e ameríndias, voltadas para a caridade e o auxílio ao próximo.

MÃE (VÓ) ÍDA

(Guilhermina Barcelos)

Não podemos falar no Ritual de Almas e Angola sem citar aquela que sempre foi a baluarte, em Santa Catarina, Guilhermina Barcelos, "MÃE IDA".
Nascida em 25 de outubro de 1919, na cidade de Rio do Sul, Estado de Santa Catarina, muito cedo começou a sentir a força da espiritualidade. Aos 16 anos sofria muito poIS não entender e aceitar as provações pelas quais passava e às situações inexplicáveis em que se via envolvida, em decorrência de uma mediunidade extremamente aflorada. Por muita vezes foi levada ao Centro Kardecista de Tiadomiro, no Bairro Estreito, mas sua juventude e sua falta de conhecimento sobre mediunidade não a deixaram frequentar às doutrinas espíritas. Outras vezes foi levada para a casa da família Farias, no Bairro Balneário (Estreito), onde recebia carinhosos cuidados espirituais.
Impulsionada pela necessidade, mãe Ida começou a freqüentar vários terreiros de Umbanda com a finalidade de desenvolve sua mediunidade. O primeiro Terreiro que ela freqüentou foi o de Mãe Didi. Esteve também fazendo parte da casa de Mãe Malvina, Yalorixá muito conceituada naquela época. Mas era em sua própria residência, na Vila Operária no Saco dos Limões, em Florianópolis, que Mãe Ida, sempre com a orientação do caboclo Guarací, atendia o maior número de pessoas necessitadas de auxílio espiritual. Também nesta época, já trabalhava com a Preta-Velha Vovó Iriquirita, que com suas benzeduras realizava muitas curas e com suas histórias enriquecia espiritualmente as pessoas que a procuravam. Neste mesmo período já trabalhava com Exu Marabô, Pomba-Gira Rainha e com o Ibejí Cosme. Mais tarde, já em Almas e Angola passou a trabalhar com Dalvinha, uma Ibejí muito arteira.
Como a procura por suas entidades tornava-se cada vez maior Mãe Ida, com a ajuda de alguns médiuns, construiu seu próprio Terreiro, nos fundos de sua casa, a Tenda Espirita São Gerônimo, uma das mais antigas e tradicionais situada na Ilha de Santa Catarina, cidade de Florianópolis, Lá, muitas pessoas desenvolveram suas mediunidades sob sua orientação, no ritual de Umbanda.
Mãe Ida foi orientada por Vovó Iriquirita a procurar no Rio de Janeiro um Terreiro onde se praticava um ritual diferente, em que havia obrigações para os Orixás, onde os médiuns ficavam recolhidos e recebiam "feituras", para fortalecer-se espiritualmente. O iniciado passava pelo batizado, e segundo a hierarquia o tempo de santo, além das condições mediúnicas, recebia as feituras de Obori, Pai-Pequeno (homens), Mãe-Pequena (mulher) e finalmente, Yalorixa (mulheres) ou Babalorixá (homens).
No ano de 1945, bairro de Cordovíl, no Rio de Janeiro, na Tenda Espírita do Caboclo Tuiti, Mãe Ida conheceu Pai Luiz D’Ângelo e o Ritual de Almas e Angola. Quatro anos depois, Mãe Ida foi ao Rio de Janeiro por muitas vezes, para adquirir mais conhecimento do ritual.
De 1949 a 1951, Mãe Ida seguiu para o Rio de janeiro decidida a realizar sua primeira feitura no Ritual de Almas e Angola. Lá permaneceu por dois meses, na Tenda Espírita Fé Esperança e Caridade, de Pai Luiz D’Ângelo, filho de Xangô e Iemanjá.Durante este tempo, todas as entidades de Mãe Ida confirmaram seus pontos, sendo que o Caboclo Guaraci foi o incubido de confirmar os demais Orixás de Mãe Ida, afirmando ser ela filha de Xangô e Iemanjá. Dando continuidade a todos as outras obarigações-rituais Guilhermina Barcelos (Mãe Ída) tornou-se a primeira Yalorixá com feitura em Almas e Angola em Santa Catarina. Seus padrinhos de camarinha foram o Babalorixá Virgilino (Cipozeiro) do Ritual de Angola e a Yalorixá Lídia de Almas e Angola.
Voltando para Florianápolis Mãe Ida organizou sua Tenda Espírita para cultuar o Ritual de Almas e Angola, ao qual havia sido consagrada. Em 1951, Pai D’Ângelo veio a Florianópolis e Mãe Ida, abre oficialmente as portas da Tenda Espírita São Gerônimo ao público, fundando o Ritual de Almas e Angola em Santa Catarina, pois não se tem conhecimento de nenhum outro Terreiro de Almas e Angola que seja anterior ao de Mãe Ída.
Já se passaram 50 anos da fundação do Ritual de Almas e Angola, na cidade Cidade de Florianópolis, capital de Santa, e ele continua sendo muito difundido no Estado. Mãe Ida realizou muitas camarinhas em seu terreiro, tendo muitos filhos de santo. Seu primeiro filho de santo no Ritual de Almas e Angola foi Aldo (Cocoróca) e a primeira Yalorixá por ela feita foi Maria de Jesus Geraldo (Bia).
Através das gerações de filhos de santo, Mãe Ida foi transmitindo seus conhecimentos, orientando-os, encorajando-os e incentivando-os através do seu exemplo de vida mediúnica.
Com a entrada de para o Candomblé, as mudanças no ritual passam a ser marcantes, fato comum ainda hoje. Conforme relata a própria Mãe Ida, ela resolve entrar para o Candomblé, satisfazendo um interesse pessoal em dar aos Orixás determinados "fundamentos" que não eram comuns à Almas e Angola. Inicialmente Mãe Ida faz uma obrigação na nação Nagô/Ijexá, posteriormente em "Toriefan" e por último na nação de Keto. Perguntada sobre as mudanças de rituais e sabendo ter sido ela a precursora do ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta Catarina, Mãe Ida diz que na época foi fortemente atraída pelas possibilidades que
 
Com seus 80 anos de idade, Mãe Ida ainda se encontra, apesar de com menos freqüência devido aos problemas decorrentes da idade, em atividade como Yalorixá. Mãe Ida continua até os dias de hoje a dar sua contribuição a todos os que desejam seguir o Ritual de Almas e Angola, permanecendo firme em seu propósito de distribuir a todos os necessitados o seu auxílio, sabedoria, paz e conforto espiritual dentro da cultura e religião afro-brasileira, através do Ritual de Almas e Angola.

Vó Ída (Guilherma Barcelos) faleceu no dia 22 de fevereiro de 2005, e foi sepultada no Cemitério São Francisco de Assis, no bairro de Itacorubi, em Florianópolis-SC.


Altar de Mãe Ida localizado Bairro Saco dos Limões - Fpolis


Baseado nos Textos Originais
Tenda Espírita Caboclo Cobra Verde - www.cobraverde.hpg.com.br 
Pesquisador: Babalorixá Geovani Martins - TECCV
Centro Espírita Luz Divina - www.celuzdivina.com.br -
Pesquisadores: Babalorixá Moacir de Oxalá e Norma de Ogum
Apolônio A. da Silva



As Fotos abaixo foram cedidas ao blog pela Ialorixá/Zeladora de Santo Ana Maria da Silva dirigente do seu Centro Espírita e Umbanda Caboclo Araribóia situado no Bairro Costeira do Pirajubaé - Fpolis - SC, em plena atividade todas às segundas feiras com início às 20:00 horas a quase 50 anos!
Eu Babalorixá Alexandre D´Ogun agradeço a gentileza prestada.

Muito Obrigado e Muito Axé!

                                                  
















Eu Babalorixá Alexandre D ´Ogun 
www.tendatecrom.blogspot.com


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