ALMAS
E ANGOLA
O
Ritual de ALMAS E ANGOLA teve sua origem no Rio de Janeiro, Estado que também
serviu de berço para o surgimento da UMBANDA.
A UMBANDA surgiu em
1908, a partir da primeira incorporação do médium Zélio de Moraes.
UMBANDA e ALMAS E ANGOLA são na realidade
manifestações "ritualístico/religiosas" distintas, apesar de
utilizarem muitas coisas em comum, como por exemplo a incorporação de
espíritos como : índios, velhos
escravos, crianças, etc.
Muitos são os terreiros de ALMAS E ANGOLA, por exemplo, que se
reconhecem como UMBANDA em ALMAS E ANGOLA, porém é muito importante lembrar
que a UMBANDA em suas atividades internas é muito diferente de ALMAS E
ANGOLA, principalmente na forma de cultuar os Orixás. Em ALMAS E ANGOLA por
exemplo, existem rituais internos denominados "FEITURAS DE ORIXÁS" ou
camarinhas. Nessas atividades o médium é "raspado",
"catulado" e como ocorre no CANDOMBLÉ, sai ao público em sessão
especial denominada "SAÍDA DE CAMARINHA".
ALMAS E ANGOLA e UMBANDA não podem ser vistas como uma mesma prática
ritualístico / religiosa, pois tem suas características internas próprias, ou
seja , realizam rituais distintos, apesar de
terem se originado de troncos quase comuns.
A
Origem do ritual de ALMAS E ANGOLA, ainda hoje é motivo de questionamento. Há
quem afirme ser o ritual de ALMAS E ANGOLA originário da CABULA, movimento
religioso oriundo do sincretismo afro-católico ainda ocorrido no período da
escravidão, principalmente nas áreas rurais. A CABULA, segundo pesquisas
refere-se aos rituais negros mais antigos, envolvendo imagens de santos
católicos, herança da fase reprimida do CANDOMBLÉ, onde os negros mesclavam
crenças e culturas. Quando no final do século XIX ocorre a libertação dos
escravos, a CABULA já era presente como atividade religiosa afro-brasileira.
Talvez a própria UMBANDA, tenha herança na CABULA, pois mantém forte a presença
do Orixá em sua pratica doutrinária.
No Rio de Janeiro, antes mesmo da origem oficial da UMBANDA (1908), eram
comuns práticas afro-brasileiras similares ao que hoje conhecemos como CABULA,
OMOLOCÔ e ALMAS E ANGOLA. Talvez o surgimento da UMBANDA tenha fornecido uma
linha comum, possibilitando uma prática mais ordenada, orientada no
desenvolvimento da mediunidade e na prática da caridade e auxílio a população
pobre e marginalizada.
Um importante fato histórico ligado ao ritual de ALMAS E ANGOLA, e
quemerece ser registrado, é o "Terreiro do BABALÂO LUIZ D'ANGELO (clique no nome ao
lado para ver foto histórica), localizado na Rua Iguaçu Nº57, no Bairro Engenho
Leal - Estação do Trem - Rio de Janeiro. Segundo as pesquisas, o Babalâo Luiz
D'Angelo praticava em seu terreiro o ritual de ALMAS E ANGOLA e foi ele que
trouxe o ritual para Sta Catarina. Antes de abrir seu terreiro Luiz D'Angelo
era filho de santo da Tenda Espírita Caboclo Tuiti, localizada no Bairro
Cordovil, também no Rio de Janeiro. Foi nessa tenda que GUILHERMINA BARCELOS (Mãe Ida) (clique no nome ao
lado para ver foto histórica) conheceu Luiz D'Angelo e o ritual de ALMAS E
ANGOLA.
O ritual de ALMAS E ANGOLA era praticado na Tenda Espírita Fé Esperança
e Caridade de Luiz D'Angelo tendo como particularidade, daí a sua distinção da
UMBANDA, as obrigações de camarinha. Nessas obrigações os médiuns eram
graduados, começando pelo Batismo, passando pelo "Obori" ou obrigação
de Anjo da Guarda, posteriormente pela obrigação de Pai ou Mãe Pequena e finalizando
com a obrigação de Babalâo (homem) ou
Babá (mulher). As obrigações de SETE, QUATORZE e VINTE E UM anos reforçam a
obrigação de Babalâo ou Babá e fazem parte da atual fase do ritual já em Sta
Catarina.
Santa Catarina
conhece o ritual de ALMAS E ANGOLA após o fim da Segunda Guerra Mundial (1945),
quando Mãe Ida viaja com seu esposo para o Rio de Janeiro, a pedido de suas
entidades espirituais, para buscar novas orientações no que se referia ao culto aos Orixás. Na
época, Mãe Ida já tinha um terreiro de umbanda desenvolvendo muitos filhos de
santo. A necessidade de fortalecer seus
filhos com obrigações mais
"fortes" (conta Mãe Ida) a
fez buscar novos recursos dentro da
cultura afro.
Foi no Rio de Janeiro, na Tenda de ALMAS E ANGOLA do BABALÂO LUIZ D'ANGELO (clique no nome ao
lado para ver foto histórica), que Mãe Ida realiza, em janeiro de 1949, sua
primeira obrigação no novo ritual. Na época com 29 anos, Mãe Ida se consagra
como a primeira pessoa em Santa Catarina a entrar para o ritual de ALMAS E
ANGOLA.
De 1949 até 1951, Mãe Ida faz algumas
viagens ao Rio de Janeiro com o objetivo de conhecer o ritual mais diretamente, pois afinal já era
de seu interesse converter seu
terreiro até então praticante de UMBANDA
para o ritual de ALMAS E ANGOLA.
Após um período necessário de adaptação, em 1951, Luiz D'Angelo vem à
Florianópolis e oficialmente "abre" a TENDA ESPÍRITA SÃO GERÔNIMO (clique no nome ao
lado para ver foto histórica) no Bairro dos Saco dos Limões, primeira Tenda de
ALMAS E ANGOLA fundada em Sta Catarina
O ritual de ALMAS E ANGOLA foi praticado
durante muitos anos na TENDA ESPÍRITA
SÃO GERÔNIMO (clique no nome ao lado para ver foto
histórica), no bairro Saco dos Limões por Mãe Ida. Nesse período inúmeros filhos de santo foram
iniciados no ritual e alguns deles receberam a graduação de Babalâo e Babá, e a partir daí abriram seus próprios terreiros, ou em alguns
casos de pais ou mães de santo com
terreiros já montados e praticantes de outros rituais, trocaram sua prática
anterior para o ritual de ALMAS E ANGOLA. Nesse período começa a se firmar o
ritual na Grande Florianópolis.
Nas décadas de 50 , 60 e 70 o ritual de ALMAS E ANGOLA praticado em Sta Catarina já sofria algumas
alterações quando comparado com o do Rio de Janeiro, porém em muitos pontos
mantinha-se fiel aos ensinamentos trazidos por Luiz D’Angelo.
Com a entrada de GUILHERMINA BARCELOS (Mãe Ida) (clique no nome ao lado para ver foto histórica)
para o Candomblé, as mudanças no ritual passam a ser marcantes, fato comum
ainda hoje. Conforme relata a
própria Mãe Ida, ela resolve entrar para o
CANDOMBLÉ , satisfazendo um interesse pessoal em dar aos Orixás
determinados "fundamentos" que não eram comuns à ALMAS E ANGOLA.
Inicialmente Mãe Ida faz uma obrigação em NAGÔ IGEXÁ, posteriormente em
"TORIEFAM" e por último em KETO.
Perguntada sobre as mudanças de rituais e sabendo ter sido ela a
precursora do ritual de ALMAS E ANGOLA
em Sta Catarina, Mãe Ida diz que
na época foi fortemente atraída
pelas possibilidades que o CANDOMBLÉ oferecia em termos de culto aos Orixás. Atualmente, quando
comparamos o ritual praticado no Rio de Janeiro com o que se pratica em Santa
Catarina, é possível identificar a forte presença de características adquiridas
por influência do Candomblé.
As poucas casas de ALMAS E ANGOLA, mesmo com o desligamento oficial de
Mãe Ida, continuaram praticando o ritual
de ALMAS E ANGOLA. Como exemplo podemos citar os terreiros de: Pai Evaldo, no bairro Bela Vista/São
José ; Pai Fagundes, no bairro Saco dos Limões/Florianópolis ; PAI TÊLES, NO BAIRRO JARDIM ATLÂNTICO/FLORIANÓPOLIS (clique no nome ao lado para ver foto
histórica), todos filhos espirituais
de Mãe Ida - e também o terreiro de Pai Orlando*, no bairro Bela
Vista 1/ São José - filho espiritual de
Luiz D'Angelo.
* (Orlando Linhares Sobrinho - Pai
Orlando, em 1976 viaja para o Rio de
Janeiro e realiza sua obrigação de Babalâo. Segundo relatos, nesse período o
ritual de Almas e Angola praticado em Santa Catarina, já sofria algumas
alterações em relação ao do Rio de Janeiro, motivo que o levou a procurar Luiz
D'Angelo para que o consagra-se Babalâo.
Pai Orlando afirma que hoje em Sta Catarina não encontram-se terreiros
que pratiquem o ritual da mesma forma que era praticado no Rio. Acredita Pai
Orlando que essas mudanças sejam resultado da influência exercida pelo
Candomblé, pois afinal, no ritual original de ALMAS E ANGOLA os orixás eram
cultuados de forma muito "simples", a começar pelas oferendas ou comidas
de santo. Pai Orlando foi um dos últimos filhos de santo "feito" por
Luiz D'Angelo).
No final da década de 70, poucos eram os terreiros praticantes do ritual
de ALMAS E ANGOLA, porém os números de adeptos e de novos iniciados ao ritual
crescia, principalmente na década de 80. É nesse período que são inaugurados
vários terreiros mantedores do ritual. Segundo pesquisa, a maior parte
dos terreiros de ALMAS E ANGOLA que hoje a praticam, são raízes da Tenda Espírita Jesus de Nazaré, fundada e
dirigida ainda hoje por EVALDO LINHARES ( Pai Evaldo). É importante registrar
que a Tenda Espírita Jesus de Nazaré é o terreiro mais antigo e em atividade no
Estado.
Na Tenda Espírita Jesus de Nazaré , o ritual de ALMAS E ANGOLA passa por
algumas modificações, ou seja, as obrigações de reforço de 7, 14 e 21 anos, não existentes no ritual no
Rio de Janeiro, passam a fazer parte dessa nova fase.
Conversando com Mãe Ida sobre as obrigações de 7, 14 e 21 anos, ficou
claro que, no ritual praticado no Rio de Janeiro, essas se limitavam as
feituras de Babalâo e Babá. Os chamados reforços foram
"criados" por Pai Evaldo , inclusive algumas guias (colares de contas). A guia de sete fios, por
exemplo, usada após a obrigação de Sete Anos é uma "criação" de Pai
Evaldo.
Segundo Pai Evaldo, após a realização da
obrigação de Babalâo e já praticando o
ritual de ALMAS E ANGOLA e sendo na época a maior casa de santo do Estado
mantenedora de uma das maiores correntes
mediúnicas , era preciso continuar o
ritual, mesmo sem a presença de Mãe Ida.
E foi assim , que com ajuda de seus mentores e guias espirituais,
principalmente do caboclo Peri, que Pai Evaldo , manteve-se "fiel" ao
ritual por ele assumido.
Ao completar seus sete anos de obrigação em ALMAS E ANGOLA , Pai Evaldo
procura novamente Mãe Ida e pede seu auxílio no sentido de orienta-lo quanto aos procedimentos
necessários para seu fortalecimento,
pois afinal , a dedicação quase total aos trabalhos espirituais exigiam um
reforço, ou seja, um fortalecimento dele enquanto médium. Mãe Ida que na época
praticava o ritual de CANDOMBLÉ, segundo relatos do próprio Pai Evaldo, já estava muito comprometida com
o seu novo ritual , ficando impossibilitada de atender o pedido de seu filho,
naquele momento. Consultando seu caboclo, o mentor dirigente do terreiro, Pai
Evaldo resolve buscar auxílio com
Pai Orlando (Nessa época Luiz D'Angelo já havia falecido) e orientado
pelo próprio Caboclo Peri e auxiliado por Pai Orlando realizou sua
obrigação de SETE anos, iniciando aí uma fase nova dentro do ritual de ALMAS E
ANGOLA. Segundo os mais antigos
praticantes do ritual, essa fase faz surgir uma bifurcação no ritual, criando
duas correntes em ALMAS E ANGOLA. Uma
corrente que segue o ritual com as alterações criadas por
Pai Evaldo e outra que mantém as
características originais trazidas por Luiz D'Angelo em 1951(Apesar de algumas
mudanças).
Conversando com Pai
Orlando, fica claro que o ritual de ALMAS E ANGOLA, hoje praticado, é bem
diferente daquele realizado no Rio de Janeiro. Como exemplo, podemos citar as
feituras do Orixá OBALUAÊ; no Rio de Janeiro esse Orixá não era
"feito". Luiz D'Angelo não fazia filhos de OBALUAÊ, pois afinal, esse
Orixá era considerado o Senhor das Almas . No Rio de Janeiro, no Terreiro de
Luiz D'Angelo a imagem desse Orixá ficava separada em um altar especial.
Atualmente, sabendo-se de algumas
alterações que ocorreram no ritual de ALMAS E ANGOLA e reconhecendo a
forte influência de Pai Evaldo no culto
em Sta Catarina é oportuno mencionar
que dos atuais terreiros que
praticam o ritual, 90% seguem as práticas e as adaptações criadas por Pai Evaldo.
De 1951, até os dias atuais, encontramos uma série de mudanças ocorridas
no ritual, principalmente no que se refere as cerimônias externas. Se no início
as obrigações se limitavam a graduação de babalâo e Babá, hoje o mesmo não
acontece. Para o ritual e ouvindo as explicações de Pai Evaldo, é possível
compreender os motivos que o levaram as adaptações realizadas em seu terreiro.
Conforme ele mesmo relata, após a entrada de Mãe Ida no CANDOMBLÉ, muita coisa
mudou. Segundo ele, manter o ritual , principalmente com a "saída" de
Mãe Ida , passou a ser um desafio. Mas ,
conforme relatos do próprio Pai Evaldo, foi graças aos seus mentores,
destacando o Caboclo Peri, o Exú Maré e o
Preto Velho Pai Adão, que o
ritual se manteve em seu terreiro , com a mesma força e energia, pois segundo
ele , o ritual sem os mentores , os guias não conseguiria se manter. Conforme diz Pai Evaldo , "OS RITUAIS
SÃO CRIAÇÕES DO PRÓPRIO HOMEM, E SENDO ASSIM SÃO PASSÍVEIS DE MUDANÇAS". Fazendo uma comparação entre o ritual
praticado no Rio de Janeiro e o atualmente praticado em Sta Catarina é evidente
que as mudanças realizadas foram necessárias e oportunas.
Outro momento importante para o ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta
Catarina, foi a obrigação de 14 anos realizada por Pai Evaldo. Na ocasião,
buscou novamente com Mãe Ida o resgate as origens de ALMAS E ANGOLA e com ela
realizou sua obrigação, confirmando aí a necessidade de se manter em obrigações
e reforços, mesmo após a realização da feitura ou graduação de Babalâo ou Babá.
Em 1986 com a realização do primeiro reforço de 14 anos no ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta Catarina,
realizado pelas mão de Mãe Ida, o ritual
vira uma nova página em sua história, consolidando-se como uma forte raíz no Estado.
No Rio de Janeiro, que foi berço do ritual de ALMAS E ANGOLA, são raros
os registros sobre o ritual, as poucas informações se limitam a histórias
contadas por aqueles que de alguma forma
conheceram Luiz D'Angelo.
Hoje, viajando para o Rio de Janeiro é possível identificarmos as
práticas da UMBANDA e do CANDOMBLÉ, porém de ALMAS E ANGOLA não existem registros atuais de nenhum
terreiro praticante desse ritual. Isso nos leva a crer que o ritual de ALMAS E
ANGOLA, que encontrou na década de 50 um
espaço aberto e amplo para sua instalação em Sta Catarina , aqui permaneceu,
cresceu, mudou em alguns pontos e se fez representar , inclusive para o restante
do Brasil, pois afinal esse ritual outrora carioca é hoje , quase que
exclusivo de Sta Catarina.
Em 1979 com a morte de Luiz D'Angelo no Rio de Janeiro, aos 68 anos , o
ritual de ALMAS e ANGOLA vira uma página
importante de sua história. Em Santa Catarina novas páginas estão sendo
escritas contribuindo para o registro e resgate dessa história que com
certeza ainda se faz.
O SIGNIFICADO DO TERMO ALMAS E ANGOLA
O termo ALMAS E
ANGOLA é originário do Rio de Janeiro. Segundo Guilhermina Barcelos (Mãe Ida),
quando de sua primeira visita ao Rio de Janeiro
em meados de 1929, já era comum o uso
do termo ALMAS E ANGOLA, inclusive quando conheceu Luiz D'Angelo ele já
era Babalâo "feito" em Almas e
Angola.
No Rio de Janeiro
até 1940, era comum encontrarmos inúmeros termos para identificar os diversos
rituais afro-brasileiros praticados na época. Segundo pesquisas, existiam no
Rio os termos: Umbanda de Mesa, Umbanda de Almas, Almas e Angola, Umbanda de
Angola entre outros. Todos praticantes da doutrina Umbandista somados a rituais
afro oriundos da cultura negra no país. A Angola, fortemente representada no
Rio de Janeiro, trazida pelos escravos Bantus, influenciou os rituais
existentes na época, pois afinal a mesma influência acontece no nordeste/Bahia
com os escravos Sudaneses.
ALMAS E ANGOLA ,segundo Guilhermina
Barcelos (Mãe Ida) teve forte influência da ANGOLA praticada pelos terreiros no
Rio de Janeiro. Luiz D'Angelo, segundo conta , tinha um irmão de santo
angolano, que muito o influenciou, principalmente no tocante a feituras de
santo (Orixás).
ALMAS E ANGOLA, mescla as culturas dos
Orixás africanos com o culto aos ancestrais (espíritos de mortos). O termo
ALMAS está fortemente representado pelos espíritos dos negros ancestrais
africanos, que aqui deportaram trazidos pelo tráfico negreiro, e que hoje se
manifestam como mentores, guias, os chamados pretos velhos. São também
representados nos terreiros de ALMAS E ANGOLA os ancestrais de índios
brasileiros, os chamados caboclos, que "curimbam" nos terreiros e
fazem sua caridade nos passes e consultas. O interessante no ritual é o fato
de conviverem harmonicamente entidades
ou falanges de diferentes origens, ou seja, pretos-velhos e caboclos trabalham
conjuntamente nos terreiros, apesar de na maioria das vezes serem envocados
(chamados) em sessões distintas.
"No Rio de Janeiro o ritual de ALMAS
E ANGOLA era praticado obedecendo alguns pontos importantes", comenta
Orlando Linhares (Pai Orlando). As sessões eram realizadas segundas, quartas e
sextas. "Em ALMAS E ANGOLA, todos
os trabalhos devem iniciar na Segunda-Feira, em respeitos as ALMAS" afirma
mais uma vez Orlando Linhares (Pai Orlando).
O ritual de ALMAS E ANGOLA praticado no Rio de Janeiro tinha como
característica principal, a utilização
de uma escala espiritual, ou seja, as SETE LINHAS ou Falanges.
AS
SETE LINHAS DENTRO DE ALMAS E ANGOLA
/ RIO DE JANEIRO
LINHA DE OXALÁ
LINHA DE XANGÔ
LINHA DE OGUM
LINHA DE OXOSSE
LINHA DE POVO D'AGUÁ ( Nanã, Yemanjá, Oxum e Inhasã)
LINHA DAS BEIJADAS
LINHA DAS ALMAS
A linha das ALMAS é chefiada por
OBALUAÊ e estão incluídos nessa linha os Pretos-Velhos,
Caboclos, Exús e Pomba-Gira.
Conforme relata Orlando Linhares (Pai
Orlando), Obaluaê representa a força do
Ritual de Almas e Angola. Segundo ele, no Rio de Janeiro as incorporações de
Obaluaê aconteciam durante as aberturas dos trabalhos, quando eram cantados os
pontos para salvar as ALMAS. Na maioria
das vezes, o médium era derrubado no chão (desmaiado) quando entrava em transe
com esse guia. Obaluaê, no Terreiro de
Luiz D'Angelo tinha um Altar Especial, pois era tido como a força de ALMAS E
ANGOLA.
Atualmente, na Grande Florianópolis,
Obaluaê continua tendo um lugar de destaque nos altares de terreiros que
praticam o ritual de ALMAS E ANGOLA.
Além de também ter um lugar de destaque na Casa das Almas.
O termo Almas, chefiada por Obaluaê,
representa os chamados Orixás Menores (são aquelas entidades espirituais que fazem
a mediação entre o ser humano e o Orixá Maior).
O termo ANGOLA, está diretamente ligado
aos Orixás Maiores, também cultuados no ritual, que segundo Evaldo linhares
(Pai Evaldo) e Guilhermina Barcelos (Mãe Ida), representam as forças da
natureza, e que nas sessões de camarinha envolvem o médium de força intensa. Em
sessões outras, fora da camarinha os orixás envocados e que incorporam nos
médiuns, são representações dos próprios orixás, ou seja, são os chamados "Eguns dos Orixás" ou
"Orixás Menores" .
Almas e Angola não é
UMBANDA e nem tão pouco CANDOMBLÉ, pois afinal segue rituais próprios e
doutrina específica. Por muitos seguidores é uma nação, porém não deve ser
desvinculada da prática original, onde envolve culturas afro e ameríndias,
voltadas para a caridade e o auxílio ao próximo.
MÃE (VÓ) ÍDA
(Guilhermina Barcelos)
Não podemos falar no Ritual de Almas e
Angola sem citar aquela que sempre foi a baluarte, em Santa Catarina,
Guilhermina Barcelos, "MÃE IDA".
Nascida em 25 de
outubro de 1919, na cidade de Rio do Sul, Estado de Santa Catarina, muito cedo
começou a sentir a força da espiritualidade. Aos 16 anos sofria muito poIS não
entender e aceitar as provações pelas quais passava e às situações
inexplicáveis em que se via envolvida, em decorrência de uma mediunidade
extremamente aflorada. Por muita vezes foi levada ao Centro Kardecista de
Tiadomiro, no Bairro Estreito, mas sua juventude e sua falta de conhecimento
sobre mediunidade não a deixaram frequentar às doutrinas espíritas. Outras vezes
foi levada para a casa da família Farias, no Bairro Balneário (Estreito), onde
recebia carinhosos cuidados espirituais.
Impulsionada pela
necessidade, mãe Ida começou a freqüentar vários terreiros de Umbanda com a
finalidade de desenvolve sua mediunidade. O primeiro Terreiro que ela
freqüentou foi o de Mãe Didi. Esteve também fazendo parte da casa de Mãe
Malvina, Yalorixá muito conceituada naquela época. Mas era em sua própria
residência, na Vila Operária no Saco dos Limões, em Florianópolis, que Mãe Ida,
sempre com a orientação do caboclo Guarací, atendia o maior número de pessoas
necessitadas de auxílio espiritual. Também nesta época, já trabalhava com a
Preta-Velha Vovó Iriquirita, que com suas benzeduras realizava muitas curas e
com suas histórias enriquecia espiritualmente as pessoas que a procuravam.
Neste mesmo período já trabalhava com Exu Marabô, Pomba-Gira Rainha e com o
Ibejí Cosme. Mais tarde, já em Almas e Angola passou a trabalhar com Dalvinha,
uma Ibejí muito arteira.
Como a procura por
suas entidades tornava-se cada vez maior Mãe Ida, com a ajuda de alguns
médiuns, construiu seu próprio Terreiro, nos fundos de sua casa, a Tenda
Espirita São Gerônimo, uma das mais antigas e tradicionais situada na Ilha de
Santa Catarina, cidade de Florianópolis, Lá, muitas pessoas desenvolveram suas
mediunidades sob sua orientação, no ritual de Umbanda.
Mãe Ida foi
orientada por Vovó Iriquirita a procurar no Rio de Janeiro um Terreiro onde se
praticava um ritual diferente, em que havia obrigações para os Orixás, onde os
médiuns ficavam recolhidos e recebiam "feituras", para fortalecer-se
espiritualmente. O iniciado passava pelo batizado, e segundo a hierarquia o
tempo de santo, além das condições mediúnicas, recebia as feituras de Obori,
Pai-Pequeno (homens), Mãe-Pequena (mulher) e finalmente, Yalorixa (mulheres) ou
Babalorixá (homens).
No ano de 1945,
bairro de Cordovíl, no Rio de Janeiro, na Tenda Espírita do Caboclo Tuiti, Mãe
Ida conheceu Pai Luiz D’Ângelo e o Ritual de Almas e Angola. Quatro anos
depois, Mãe Ida foi ao Rio de Janeiro por muitas vezes, para adquirir mais
conhecimento do ritual.
De 1949 a 1951, Mãe
Ida seguiu para o Rio de janeiro decidida a realizar sua primeira feitura no
Ritual de Almas e Angola. Lá permaneceu por dois meses, na Tenda Espírita Fé
Esperança e Caridade, de Pai Luiz D’Ângelo, filho de Xangô e Iemanjá.Durante
este tempo, todas as entidades de Mãe Ida confirmaram seus pontos, sendo que o
Caboclo Guaraci foi o incubido de confirmar os demais Orixás de Mãe Ida,
afirmando ser ela filha de Xangô e Iemanjá. Dando continuidade a todos as
outras obarigações-rituais Guilhermina Barcelos (Mãe Ída) tornou-se a primeira
Yalorixá com feitura em Almas e Angola em Santa Catarina. Seus padrinhos de
camarinha foram o Babalorixá Virgilino (Cipozeiro) do Ritual de Angola e a
Yalorixá Lídia de Almas e Angola.
Voltando para
Florianápolis Mãe Ida organizou sua Tenda Espírita para cultuar o Ritual de
Almas e Angola, ao qual havia sido consagrada. Em 1951, Pai D’Ângelo veio a
Florianópolis e Mãe Ida, abre oficialmente as portas da Tenda Espírita São
Gerônimo ao público, fundando o Ritual de Almas e Angola em Santa Catarina,
pois não se tem conhecimento de nenhum outro Terreiro de Almas e Angola que
seja anterior ao de Mãe Ída.
Já se passaram 50
anos da fundação do Ritual de Almas e Angola, na cidade Cidade de
Florianópolis, capital de Santa, e ele continua sendo muito difundido no
Estado. Mãe Ida realizou muitas camarinhas em seu terreiro, tendo muitos filhos
de santo. Seu primeiro filho de santo no Ritual de Almas e Angola foi Aldo
(Cocoróca) e a primeira Yalorixá por ela feita foi Maria de Jesus Geraldo
(Bia).
Através das
gerações de filhos de santo, Mãe Ida foi transmitindo seus conhecimentos,
orientando-os, encorajando-os e incentivando-os através do seu exemplo de vida
mediúnica.
Com a entrada de para o Candomblé, as
mudanças no ritual passam a ser marcantes, fato comum ainda hoje. Conforme
relata a própria Mãe Ida, ela resolve entrar para o Candomblé, satisfazendo um
interesse pessoal em dar aos Orixás determinados "fundamentos" que
não eram comuns à Almas e Angola. Inicialmente Mãe Ida faz uma obrigação na
nação Nagô/Ijexá, posteriormente em "Toriefan" e por último na nação
de Keto. Perguntada sobre as mudanças de rituais e sabendo ter sido ela a precursora
do ritual de ALMAS E ANGOLA em Sta Catarina, Mãe Ida diz que na época foi
fortemente atraída pelas possibilidades que
Com seus 80 anos de idade, Mãe Ida ainda se
encontra, apesar de com menos freqüência devido aos problemas decorrentes da
idade, em atividade como Yalorixá. Mãe Ida continua até os dias de hoje a dar
sua contribuição a todos os que desejam seguir o Ritual de Almas e Angola,
permanecendo firme em seu propósito de distribuir a todos os necessitados o seu
auxílio, sabedoria, paz e conforto espiritual dentro da cultura e religião
afro-brasileira, através do Ritual de Almas e Angola.
Vó Ída (Guilherma Barcelos) faleceu no dia
22 de fevereiro de 2005, e foi sepultada no Cemitério São Francisco de Assis,
no bairro de Itacorubi, em Florianópolis-SC.
Altar de Mãe Ida localizado Bairro Saco dos Limões - Fpolis
Baseado nos Textos Originais
Tenda Espírita Caboclo Cobra Verde - www.cobraverde.hpg.com.br
Pesquisador: Babalorixá Geovani Martins - TECCV
Centro Espírita Luz Divina - www.celuzdivina.com.br -
Pesquisadores: Babalorixá Moacir de Oxalá e Norma de Ogum
Apolônio A. da Silva
As Fotos abaixo foram cedidas ao blog pela Ialorixá/Zeladora de Santo Ana Maria da Silva dirigente do seu Centro Espírita e Umbanda Caboclo Araribóia situado no Bairro Costeira do Pirajubaé - Fpolis - SC, em plena atividade todas às segundas feiras com início às 20:00 horas a quase 50 anos!
Eu Babalorixá Alexandre D´Ogun agradeço a gentileza prestada.
Muito Obrigado e Muito Axé!
Eu Babalorixá Alexandre D ´Ogun
www.tendatecrom.blogspot.com
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BABALORIXA ALEXANDRE D´OGUN